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por
Carolina
Em novembro de 2025, o The Lancet — uma das revistas médicas mais importantes do mundo — publicou uma Série de três artigos dedicada aos alimentos ultraprocessados (UPF) e ao seu impacto na saúde humana. Esta é a análise mais abrangente já realizada sobre o tema: reúne estudos de vários países, inclui meta-análises com milhões de participantes e discute não só os efeitos na saúde, mas também as políticas e o ambiente alimentar que têm impulsionado estes produtos.
Neste artigo resumimos os principais pontos da Série, a evidência que a sustenta e o que isto significa, na prática, para as famílias, especialmente com bebés e crianças pequenas.
Os UPF são definidos pela classificação NOVA como produtos industriais fabricados a partir de ingredientes extraídos ou derivados de alimentos (amidos modificados, proteínas isoladas, xaropes, açúcares invertidos, óleos refinados), combinados com aditivos como aromas, corantes, estabilizantes, emulsificantes, edulcorantes e intensificadores de sabor.
Não são apenas “alimentos processados” — são formulações industriais desenhadas para substituir refeições caseiras, ser altamente saborosas, durar muito tempo e caber na rotina acelerada das famílias.
Exemplos comuns:
cereais de pequeno-almoço “infantis”
iogurtes aromatizados e sobremesas lácteas
refrigerantes, sumos artificiais
bolachas, barras, snacks embalados
refeições prontas, pizzas e nuggets congelados
purés, papas e produtos “de bebé” com lista de ingredientes longa
A Série tem três artigos principais:
Este artigo analisa mais de 100 estudos prospetivos que seguiram milhões de pessoas durante anos. Os resultados são consistentes:
Maior risco de mortalidade total
Estudos apontam para um aumento de 10–15% no risco de morrer mais cedo por cada +10% de energia proveniente de UPF.
Doença cardiovascular
Maior risco de enfarte, AVC e doença coronária.
Obesidade e diabetes tipo 2
A relação é consistente em crianças, adolescentes e adultos.
Cancro
Especialmente colorectal e alguns da via digestiva e cabeça/pescoço.
Saúde mental
Associação com maior risco de depressão, ansiedade e pior qualidade de sono.
Os autores reforçam que nenhum estudo encontrou benefício para a saúde associado a maior consumo de UPF.
Perfil nutricional pobre: mais açúcar, sal, gordura de baixa qualidade e calorias vazias; menos fibra e micronutrientes.
Textura e matriz alimentar alteradas: facilitam comer rápido e em excesso.
Aditivos e exposição crónica: alguns podem alterar a microbiota intestinal e promover inflamação — ainda em investigação, mas preocupante.
Hipersaborização: combinação de açúcar, sal e gordura desenhada para promover consumo excessivo.
Marketing agressivo, especialmente direcionado a crianças.
Os outros dois artigos discutem políticas para reduzir a dependência dos UPF. Exemplos:
retirar UPF de escolas, creches e hospitais
rotulagem frontal de advertência
limitar publicidade dirigida a crianças
impostos sobre bebidas açucaradas e certos UPF
transparência sobre lobby da indústria
apoiar alimentos frescos e locais
A mensagem é clara: não podemos pedir às famílias que “escolham melhor” se o ambiente alimentar está desenhado para promover UPF.
A base da alimentação deve ser comida de verdade.
Quanto mais cedo, melhor. Bebés e crianças pequenas são mais vulneráveis a perfis nutricionais pobres e a hábitos alimentares que se fixam para a vida.
Os ultraprocessados não devem fazer parte das rotinas diárias.
Não é “proibir para sempre” — é garantir que não se tornam a base do pequeno-almoço, lanche ou snacks.
A alimentação escolar importa — muito.
A Série reforça algo que famílias e educadores sentem no dia a dia:
não adianta ensinar hábitos saudáveis se a creche ou escola oferece iogurtes açucarados, bolachas e sobremesas todos os dias.
É preciso exigir mudanças estruturais.
A responsabilidade não é das mães ou dos pais individualmente. Escolas, municípios e políticas nacionais precisam de acompanhar a evidência.
Sim, muitos estudos são observacionais. Sim, a classificação NOVA não é perfeita.
Mas a força do conjunto — consistência entre países, mecanismos plausíveis, dose-resposta e convergência de resultados — levou o The Lancet a considerar que a ação é necessária agora.
Os alimentos ultraprocessados não são apenas uma moda ou um exagero das redes sociais. São um problema de saúde pública global — e o impacto começa cedo, ainda na infância.
A nova Série do The Lancet reforça que reduzir UPF é uma estratégia essencial para proteger a saúde das famílias. E lembra-nos que não basta “escolher bem”: é preciso mudar o ambiente alimentar, especialmente em creches e escolas.
Referências
Série do The Lancet sobre alimentos ultraprocessados (2025)
Monteiro CA, Cannon G, Lawrence M, et al. Ultra-processed foods and human health: the main thesis and the evidence. The Lancet. 2025; Published online Nov 18.
Scrinis G, Baker P, et al. Policies to halt and reverse the rise in ultra-processed food. The Lancet. 2025; Published online Nov 18.
Baker P, Lacy-Nichols J, et al. Towards unified global action on ultra-processed foods. The Lancet. 2025; Published online Nov 18.
Editorial. Ultra-processed foods: time to act. The Lancet. 2025; Published online Nov 18.
Comida de bebé
Morada
Ruas da maternidade,
hospital da oliveira,
Lisboa 4900-120