Nos últimos anos tem-se falado cada vez mais sobre a importância da alimentação nas escolas e creches. Afinal, é neste espaço que muitas crianças fazem grande parte das suas refeições diárias e onde consolidam hábitos que as irão acompanhar para a vida. Em Portugal, já existem leis, orientações da Direção-Geral da Educação (DGE) e resoluções parlamentares que apontam claramente no sentido de reduzir ou eliminar a presença de ultraprocessados nas ementas escolares. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça que o consumo excessivo de açúcares, sal e gorduras saturadas desde cedo aumenta o risco de excesso de peso e de doenças crónicas no futuro.

Ainda assim, muitos pais continuam a deparar-se com lanches que incluem bolachas, fiambre, iogurtes de aroma ou leite com chocolate — alimentos que não se enquadram nestas recomendações. É natural que surjam dúvidas: como abordar a escola? como pedir uma alteração sem criar conflito?

Para apoiar este diálogo, preparámos um modelo de e-mail /comunicação cordial e colaborativo, já fundamentado na legislação portuguesa, nas orientações da DGE/DGS, na Resolução da Assembleia da República n.º 92/2025 e nas recomendações internacionais da OMS. O objetivo é facilitar a comunicação entre famílias e escolas, dando argumentos sólidos mas sempre num tom construtivo.

Modelo de comunicação com a creche:

Assunto: Proposta colaborativa para melhorar a qualidade dos lanches escolares

Exmos.(as) Senhores(as),

Sou encarregado(a) de educação do(a) [nome da criança], da turma [turma/ano], e escrevo com o maior espírito de colaboração para partilhar uma preocupação e propor soluções construtivas relativamente aos lanches atualmente disponibilizados na escola.

1) Enquadramento legal e diretrizes nacionais

Em Portugal, a Direção‑Geral da Educação (DGE) editou orientações vinculativas (e.g., Orientações sobre Ementas e Refeitórios Escolares, 2018) subordinadas à missão da Ação Social Escolar, que proíbem o fornecimento de produtos altamente processados, com excesso de açúcar, sal ou gordura, e priorizam alimentos naturais ou pouco processados.

O Descodificador de Rótulos da Direção‑Geral da Saúde (DGS) permite avaliar rapidamente o teor de açúcar, gordura e sal nos produtos - uma ferramenta prática para garantir escolhas alimentares mais saudáveis.

2) Resolução Parlamento — creches e alimentação infantil

A Resolução da Assembleia da República n.º 92/2025, aprovada em 24 de março de 2025, recomenda ao Governo que:

• Regulamente a alimentação em berçários e creches, garantindo padrões nutricionais adequados;

• Exija que todas as ementas (refeições e lanches) sejam elaboradas sob supervisão de um nutricionista, promovendo a eliminação de produtos ultraprocessados, com açúcar ou sal adicionados e aditivos artificiais;

• Inclua opções vegetarianas nutricionalmente equilibradas nas ementas;

• Estabeleça mecanismos de fiscalização rigorosos e promova o uso de produtos locais e de cadeias curtas na confeção das refeições (Diário da República).

Embora estas recomendações visem creches, reforçam um princípio universal: a necessidade urgente de escolhemos lancheiras saudáveis e equilibradas desde as primeiras idades.

3) Recomendações da OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o consumo de açúcares livres seja inferior a 10% (idealmente <5%) do total energético diário, e incentiva políticas que protejam crianças da publicidade a alimentos ricos em açúcar, sal e gordura (Pensar Nutrição, Parlamento).

4) Evidência científica

Vários estudos mostram que o consumo elevado de ultraprocessados em crianças se associa a aumento do IMC, risco de obesidade, alterações glicémicas e perfil cardiometabólico comprometido.

5) Proposta colaborativa

Com base nestes fundamentos — orientações DGE/DGS, Resolução AR 92/2025, OMS e evidência científica — proponho:

• A substituição progressiva de artigos ultraprocessados (iogurtes aromatizados, leite com chocolate, bolachas, fiambre) por alternativas saudáveis e pouco processadas;

• A aplicação regular do Descodificador de Rótulos DGS na seleção dos produtos (evitar os “vermelhos”);

• A promoção da água como primeira opção de bebida;

• Uma possível reunião com a nutricionista ou coordenação para explorar fornecedores ou combos saudáveis.

6) Sugestões práticas de substituição e comparações

• Iogurte por aromas → Iogurte natural (menos açúcar, pode-se adoçar com fruta);

• Leite com chocolate → Leite simples (menos açúcar, mais económico);

• Bolachas tipo Maria → Pão simples + opção proteica (queijo fresco, ovo, húmus) + fruta / tostas de milho ou arroz / granosa;

• Fiambre → Ovos cozidos, frango desfiado caseiro, queijo fresco ou manteiga de amendoim 100 %.

Agradeço desde já a vossa atenção. Estou plenamente disponível para colaborar — seja numa reunião, partilha de receitas saudáveis, auxílio com o Descodificador ou na seleção de lanches. Juntos podemos promover hábitos alimentares saudáveis com base científica e legal.

Com os melhores cumprimentos,
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Contacto: [telemóvel/email]
Aluno(a): [nome], Turma: [turma/ano]