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por
Carolina
As saquetas de comida para bebé do Reino Unido não estão a satisfazer as principais necessidades nutricionais dos bebés e crianças pequenas e os pais estão a ser "enganados" pelo marketing — segundo informações do BBC Panorama.
Que a maior parte das saquetas de fruta comercializadas como "sem adição de açúcar", continham excesso de açúcar - os chamados “açucares livres”
Que as marcas sabem disso, mas mesmo assim escolhem colocar na embalagem “sem adição de açúcar” como estratégia para induzir os pais em erro.
Que existem saquetas comercializadas para bebés de 4 mees de idade contra as recomendações claras do governo do Reino Unido e da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Que as saquetas com vegetais e proteina, utilizadas por algumas famílias como substitutos das refeições principais, contêm menos de 5% do nutriente essencial, o ferro, de que uma criança necessita diariamente.
E, o mais surpreendente, uma saqueta feita com manga, perdeu praticamente toda a vitamina C durante o processo de fabrico. A mesma quantidade de manga fresca (70 g) contém 18,2 mg de vitamina C.
Poucos dias depois dessa investigação aparecer na televisão, um novo artigo no site da BBC, falava que a Obesity Health Alliance (OHA), pedia ao governo medidas urgentes.
Numa carta dirigida ao Governo, a OHA refere:
"Em nome de mais de 40 organizações de saúde líderes, estamos a escrever para partilhar a nossa profunda preocupação com o estado atual dos alimentos e bebidas disponíveis para bebés, crianças e adolescentes no Reino Unido. O bem-estar nutricional dos nossos cidadãos mais jovens tem sido negligenciado durante muito tempo, e pedimos que o seu governo tome medidas ousadas e imediatas para corrigir isso. Cada criança merece ter acesso a alimentos saudáveis e nutritivos que contribuam para o seu crescimento, desenvolvimento e saúde a longo prazo.
Sem uma intervenção urgente, enfrentamos a perspectiva muito real de uma geração crescer com piores resultados de saúde do que os seus pais."
Em entrevista à BBC, a diretora da OHA, Katharine Jenner, afirmou que, desde o momento em que os bebés nascem, são bombardeados com alimentos açucarados e altamente processados.
"Isto está a alimentar uma crise de saúde que começa na infância e é quase impossível de reverter mais tarde na vida.
Segundo a OHA, com o aumento da obesidade infantil, das cáries e da diabetes tipo 2, é agora o momento de garantir que as crianças e os pais não são expostos ao marketing enganoso de alimentos e bebidas.
Disse ainda que deveria haver limites obrigatórios de açúcar nos alimentos e bebidas para bebés, mais programas para ajudar as famílias de baixos rendimentos a ter acesso a alimentos saudáveis acessíveis e avisos sobre o açúcar nos rótulos dos alimentos.
"Sem uma intervenção urgente, enfrentamos a perspectiva muito real de uma geração crescer com piores resultados de saúde do que os seus pais", afirmou a OHA numa carta ao Secretário da Saúde Wes Streeting.
Em 2022, a BDA alertava para os níveis elevados de açúcar nas saquetas e do impacto que estas tinham na deterioração dentária.
A Associação Dentária Britânica falava de "níveis obscenos de açúcar nas embalagens populares de alimentos para bebés"
Apesar das alegações generalizadas de que "não há adição de açúcar" nestes produtos, os médicos dentistas sublinhavam que, no que diz respeito aos dentes, há pouca ou nenhuma diferença se o açúcar é adicionado ou ocorre naturalmente.
A análise de mercado realizada pela Associação Dentária Britânica de 109 saquetas destinadas a crianças com menos de 12 meses indica (tradução livre do texto da BDA):
Mais de um quarto continha mais açúcar em volume do que a Coca-Cola. Estas bolsas são, sem exceção, misturas à base de purés de fruta.
As marcas premium parecem ter níveis de açúcar mais elevados do que as marcas tradicionais de alimentos para bebés ou as alternativas de marca própria, com as líderes de mercado Ella's Kitchen e Annabel Karmel a serem criticadas. Embora os fabricantes descrevam os elevados níveis de açúcar "natural" como inevitáveis nas saquetas à base de fruta, algumas marcas oferecem produtos com ingredientes semelhantes que contêm cerca de metade dos níveis de açúcar dos piores infratores.
Alguns produtos examinados, destinados a crianças a partir dos quatro meses, contêm até dois terços da ingestão diária recomendada (DDR) de açúcar para um adulto.
As orientações do Reino Unido e da OMS recomendam a introdução alimentar a partir dos seis meses de idade, pelo que nenhum produto deve ser comercializado como "para mais de quatro meses". Quase 40% dos produtos examinados foram comercializados nesta faixa etária.
O setor tem adotado consistentemente uma linguagem hipócrita, destacando a presença apenas de "açúcares naturais" ou a ausência de "açúcares adicionados", com outros a fazerem alegações obscuras de que os produtos são "nutricionalmente aprovados" ou estão em conformidade com as "necessidades nutricionais e de desenvolvimento" dos bebés. Todos os produtos com alto teor de açúcar adotam princípios de "rotulagem de halo", com foco no estatuto de "orgânicos", "ricos em fibras" ou "contendo 1 das suas 5 porções diárias", enganando os pais, fazendo-os pensar que estão a fazer escolhas saudáveis.
Mais de dois terços dos produtos examinados ultrapassaram o limite de 5 g de açúcar por 100 ml estabelecido para o imposto sobre o açúcar aplicado às bebidas. Os médicos dentistas sublinham que a expansão das medidas fiscais provavelmente teria resultados favoráveis em termos de incentivo à reformulação.
Um relatório recente da BDA, partilhado em exclusivo com a BBC, indicou que 37 em cada 60 saquetas de fruta encontradas nas prateleiras dos supermercados continham mais açúcar livre do que a recomendação de 10 g / dia do NHS. Numa única saqueta!
Segundo Eddie Crouch, presidente da BDA, as crianças mal são desmamadas e já estão a ir ao hospital para múltiplas extrações de dentes por causa de cáries causadas pela sua dieta.
"Obviamente, não se trata apenas destas saquetas”, acrescentou. "Mas é claro que o uso regular e a alimentação com estas saquetas com níveis tão elevados de açúcar causam graves problemas à saúde geral das crianças à medida que crescem."
A BDA também criou uma petição que pede para que o açúcar tenha o mesmo tratamento (a nível de leis) que o tabaco teve. Pode ver a petição aqui.
Em Portugal, as saquetas já representam 35,9% do mercado de alimentação para bebés. Esse número já é maior do que o de papas de cereais! Isso mostra como este produto está a crescer em popularidade.
Segundo um estudo do INSA, 78% das refeições de colher (onde estão incluídas as saquetas) deveriam vir com uma advertência de elevado teor de açúcar na embalagem!
Segundo uma análise pessoal que fiz num supermercado de grande dimensão:
Excesso de açúcar: a maior parte das saquetas têm mais de 10 gramas de açúcar. Algumas têm muito mais do que isso. As duas piores saquetas que encontrei no supermercado têm mais de 15% de açúcares livres:
Recomendação para oferecer a partir dos 4 meses, contra o que diz a OMS e DGS;
Marcas que ainda incentivam o beber pela saqueta, com fotos de bebés a fazê-lo, quando os dentistas alertam para os riscos de o fazer;
Alegações na parte da frente da embalagem que são feitas para confundir os pais. Um exemplo é uma saqueta que diz ser de "Abacate e mirtilos", quando as duas frutas juntas representavam apenas 12%.
Esta parte é opinião pessoal, mas tem como base muito do que já é feito fora de Portugal:
A DGS precisa lançar um parecer que desaconselha o uso as saquetas de fruta;
A DGS atualizar o guia de alimentação infantil com diretrizes mais claras sobre o consumo de açúcar e ultra-processados.
Atualização da legislação sobre a publicidade a alimentos ultra-processados na televisão. O que temos atualmente é muito vago, porque só coloca limites em programas direcionados a crianças ou produtos específicos. Por isso vemos tantos anúncios de produtos alimentares ultra-processados na televisão em horário nobre. A proibição de publicidade num horário alargado, em que sabemos que as crianças podem estar a ver televisão seria o ideal.
Proibições no posicionamento de certos alimentos nas prateleiras dos supermercados, evitando que alimentos com elevado teor de açúcar, sal e outros aditivos, tenham mais destaque.
Proibição de promoções de produtos ultra-processados com elevado teor de açúcar, como cereais de pequeno-almoço.
Atualização dos códigos deontologicos de nutricionistas, médicos e enfermeiros com a proibição de publicidade a marcas de alimentação infantil nas redes sociais.
A União Europeia precisa criar com urgência novas diretrizes na rotulagem de alimentos, especialmente os direcionados a bebés e crianças. Replicar o que já é feito, com sucesso, em países como o Brasil. Precisamos de produtos com rótulos mais simples e com avisos claros quando os produtos têm elevado teor de açúcar, sal ou gordura saturada.
A União Europeia também precisa criar diretrizes mais apertadas no que diz respeito a alegações nutricionais e ingredientes nos produtos direcionados a bebés e imposição de novos limites para o açúcar total (incluindo açúcares livres) nesses produtos.
Fontes:
(1) BBC
(2) BBC
(3) OHA: Growing Up Healthy – Prioritising Nutrition for the Next Generation
(4) BDA: "As sugary as cola": Dentists call for sweeping action on baby pouches
(5) Make Sugar the new Tobacco (petição pública)
Comida de bebé
Morada
Ruas da maternidade,
hospital da oliveira,
Lisboa 4900-120