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por
Carolina
Neste artigo falamos sobre farinhas hidrolisadas, porque é que estão tão presentes nos produtos infantis e porque é que devem ser evitadas.
O período de introdução alimentar tem um papel crucial no desenvolvimento do paladar e preferências alimentares das crianças. Um dos componentes frequentemente discutidos na alimentação infantil são os açúcares, especialmente aqueles presentes nas papas industrializadas direcionadas a bebés.
Como está organizado este artigo:
Os diferentes tipos de açúcar;
O que são açúcares livres conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS);
O que é o processo de hidrólise da farinha;
Qual a razão para tantas papas infantis conterem farinha hidrolisada;
O que é que a legislação europeia considera como açúcares adicionados.
Os açúcares podem ser classificados de várias formas, mas para o propósito deste artigo, focar-nos-emos em três categorias principais: monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos.
1. Monossacarídeos: São os açúcares mais simples, compostos por uma única molécula. Exemplos incluem a glicose, frutose e galactose. A glicose é a principal fonte de energia para o corpo, enquanto a frutose, encontrada em frutas e mel, é metabolizada de forma diferente pelo fígado.
2. Dissacarídeos: Compostos por duas moléculas de monossacarídeos ligadas entre si. Exemplos incluem a sacarose (glicose + frutose), a lactose (glicose + galactose) e a maltose (duas moléculas de glicose).
3. Polissacarídeos: São longas cadeias de monossacarídeos. Exemplos incluem o amido e o glicogénio. Embora não sejam doces como os monossacarídeos e dissacarídeos, são importantes fontes de energia, especialmente em dietas baseadas em vegetais e cereais.
A Organização Mundial da Saúde define "açúcares livres" como todos os monossacarídeos e dissacarídeos adicionados aos alimentos e bebidas pelo fabricante, cozinheiro ou consumidor, além dos açúcares naturalmente presentes no mel, xaropes, sumos de frutas e concentrados de sumo de frutas. Essa definição exclui os açúcares presentes em frutas e vegetais inteiros, que estão ligados às fibras da planta e, portanto, têm um impacto metabólico diferente.
A hidrólise é um processo químico em que uma molécula de água é usada para quebrar ligações entre moléculas maiores. No contexto das farinhas, a hidrólise enzimática é utilizada para quebrar as longas cadeias de amido dos cereais (um polissacarídeo) em cadeias mais simples, como as dextrinas e os açúcares e outros oligossacarídeos.
Os cereais possuem uma pequena quantidade de açúcar (aproximadamente 1%) na sua composição (as maltoses que aparecem na lista acima). Durante o processo de hidrólise industrial, são produzidos açúcares que poderíamos classificar como açúcares livres.
Quando o amido das farinhas é hidrolisado, ele transforma-se em açúcares mais simples que são facilmente digeridos e absorvidos pelo corpo. Este processo, embora facilite a digestão e aumente a solubilidade dos produtos, resulta num aumento significativo da quantidade de açúcares livres no alimento. E, quanto maior o grau de hidrólise, maior o teor de açúcar produzido.
Esse aumento pode ser prejudicial para bebés, pois a ingestão elevada de açúcares livres está associada a riscos acrescidos de obesidade, cáries dentárias e outros problemas de saúde a longo prazo.
A grande maioria dos cereais infantis é produzida desta forma desde a década de 80 com alguns objectivos:
1. Facilidade de digestão: O sistema digestivo dos bebés ainda estaria em desenvolvimento e a capacidade de digerir amidos complexos seria limitada devido à falta da enzima amilase pancreática, principal responsável pela hidrólise do amido a nível intestinal.
2. Palatabilidade: A hidrólise melhora o sabor das papas, tornando-as mais doces sem a necessidade de adicionar açúcares extra.
3. Textura: Farinhas hidrolisadas ajudam a criar uma textura mais suave e homogénea, o que facilitaria o consumo pelos bebés.
No entanto, à luz do conhecimento atual e das recomendações mais recentes de começar a introdução alimentar mais perto dos 6 meses, não faz sentido recorrer a esses processos de hidrólise das farinhas. Hoje sabemos que os bebés são capazes de digerir o amido sem necessidade de hidrólise prévia.
A presença de açúcares livres nessas farinhas pode representar um desafio nutricional, pois pode contribuir para um consumo excessivo de açúcar, mesmo sem a adição explícita de açúcares na fórmula.
A legislação europeia que regula os rótulos nutricionais e as alegações relacionadas aos alimentos é principalmente regida pelo Regulamento (EU) nº 1169/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de outubro de 2011, relativo à prestação de informação aos consumidores sobre os géneros alimentícios. Este regulamento estabelece normas para a rotulagem de alimentos, incluindo a declaração de açúcares no conteúdo nutricional.
De acordo com a legislação europeia, os açúcares adicionados referem-se aos monossacarídeos e dissacarídeos que são adicionados aos alimentos durante o seu processamento ou preparação. Isso inclui açúcares adicionados pelo fabricante, pelo cozinheiro ou pelo consumidor. A legislação destaca a importância de distinguir entre açúcares naturalmente presentes nos alimentos (como os encontrados em frutas e leite) e aqueles que são adicionados.
O Regulamento (EU) nº 1169/2011 exige que os rótulos de alimentos forneçam informações claras e compreensíveis sobre o conteúdo de açúcar dos produtos. A rotulagem nutricional deve incluir a quantidade de "açúcares" no valor total dos hidratos de carbono. No entanto, a legislação não obriga a diferenciação específica entre açúcares naturalmente presentes e açúcares adicionados na tabela nutricional.
Uma das principais questões com a legislação europeia atual é que ela permite certas práticas que podem ser consideradas enganosas para os consumidores. Por exemplo, se um produto contém farinhas hidrolisadas, os açúcares presentes resultam da decomposição enzimática do amido e não da adição direta de açúcares. Isto significa que esses açúcares não são classificados como "adicionados", permitindo que o produto seja rotulado como "sem açúcar adicionado", mesmo que contenha níveis elevados de açúcares livres.
Além disso, existem exceções específicas no regulamento que podem afetar a rotulagem de produtos com açúcares naturalmente presentes. Por exemplo, produtos que contêm concentrados de sumo de fruta podem ter açúcares elevados que não são considerados "adicionados" se esses açúcares são naturalmente presentes no ingrediente principal.
A compreensão dos tipos de açúcar e dos processos de produção de alimentos é crucial para fazer escolhas informadas sobre a alimentação dos bebés. As farinhas hidrolisadas, embora benéficas para a digestibilidade e textura dos alimentos infantis, podem contribuir para um consumo excessivo de açúcares livres. A legislação europeia atual permite a rotulagem de produtos com farinhas hidrolisadas como "sem açúcar adicionado", o que pode induzir em erro os consumidores. É essencial que pais e cuidadores estejam bem informados e leiam atentamente os rótulos dos alimentos para bebés, compreendendo os termos e processos envolvidos na fabricação desses produtos.
Referências:
Organização Mundial da Saúde. (2015). Directrizes da OMS sobre a ingestão de açúcares para adultos e crianças.
EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). (2010). Scientific Opinion on Dietary Reference Values for carbohydrates and dietary fibre. EFSA Journal.
Monteiro, C. A., Cannon, G., Moubarac, J. C., et al. (2018). The UN Decade of Nutrition, the NOVA food classification and the trouble with ultra-processing. Public Health Nutrition.
Ministério da Saúde, Direção-Geral da Saúde. (2017). Normas e orientações para a alimentação saudável de crianças e adolescentes.
European Food Safety Authority (EFSA). (2012). Scientific Opinion on the substantiation of health claims related to carbohydrates, including sugars and starches. EFSA Journal.
European Parliament and Council of the European Union*. (2011). Regulation (EU) No 1169/2011 of the European Parliament and of the Council of 25 October 2011 on the provision of food information to consumers. Retrieved from (https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=celex%3A32011R1169).
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